sexta-feira, setembro 21

Obama tem caché na disco

É fácil fazer 40 mil dólares nos EUA. Jay-Z e Beyoncé participaram com donativos num clube de luxo americano, onde também estiveram presentes outras celebridades como um tal George Clooney.

Segundo Barack Obama, as próximas eleições presidenciais serão decisivas no caminho da democracia americana e no futuro do seu povo. E fala o líder democrata que pretende restaurar as hipóteses de escalar o sonho americano, há muito que tem vindo a ser negado a milhões pessoas. Mas Obama acredita numa «economia mais justa e igualitária, com oportunidades para todos».

É fácil dizer muitas coisas. Qualquer um diz coisas deliberadamente. Mas não é qualquer um que faz qualquer coisa. De dizer a fazer vai muita coisa, suponho. Tenho as minhas dúvidas face à minha capacidade de produzir 40 mil dólares numa noite. Aliás, reformulo, fazer com que um monte de sucata disponibilize 40 mil dólares para presenciar uma festa num clube de luxo sob responsabilidade anfitriã de um presidente que quer construir uma economia mais justa e igualitária? Duvido ter essa capacidade e que mais alguém no mundo seja capaz de orientar uma quantia tão volumosa, ora, num evento que serviu de pura campanha eleitoral.

Pergunto-lhe, Sr. Barack, que economia é essa que pretende construir quando dá o exemplo tão rasca de fazer campanha ao lado de Jay-zs e outros, num evento com entrada paga, num somatório de 40 mil dólares?

Ainda hoje apelava aos muçulmanos para protegerem os americanos residentes em territórios do Médio Oriente e, agora, é a cabeça de cartaz num evento desse tipo, Sr. Presidente? E quem é que protege os milhares de pobres americanos que tanto ambicionaram e nada têm, Sr. Presidente? Faça valer o caché e preocupe-se com a sua gente.

Sr. Américo e a RTP


«Qualquer dia, estes gajos tiram-nos tudo» é o que diz o meu pai, Sr. Américo, sempre que o assunto do Serviço Público e RTP vem à baila. E eu concordo.

Mas que raio é o Serviço Público? Este assunto de obsessão que ultimamente tem assombrado o governo não pode ser considerado aquilo a que estamos habituados pensar que é. Se Serviço Público é transmitir informação sobre Portugal e Mundo, montar reality shows, concursos de adivinhas e tops de música comercial, passar campeonatos de futebol, filmes de pipoca, mais campeonatos de futebol, falar da vida dos outros, da moda e de mais assuntos cor-de-rosa; então, aquilo que pensam sobre serviço público, na verdade, não se trata de Serviço Público. Óbvio. E se Serviço Público é essa treta toda, ele não estará ameaçado com a concessão ou privatização da RTP porque existem outros dois canais televisivos que asseguram esse tal serviço público.

Ou seja, para a Cultura e para o verdadeiro Serviço Público privatizar a RTP actual é igual ao litro. Acabará por se tornar no terceiro canal industrial a praticar e a contribuir pouco para o Serviço Público, no fundo, como já o é.

Solução? Condicionar a RTP é uma medida bem-vinda quando se estiver a falar de abolir espaços e programas televisivos que não são Serviço Público: ao retirar concursos da treta, experiências matinais sobre a vizinha do lado que deixou o almoço queimar e campeonatos de futebol, teríamos um canal a praticar verdadeiramente Serviço Público, isto é, conteúdos extremamente bem definidos, emprestando informação institucional e nacional, promovendo a identidade nacional e o debate de assuntos de qualidade. Isto sim é Serviço Público e a única medida regeneradora abraçada pelos portugueses.

Mas para esta medida condicionadora ser aplicável, tem que se dar um final trágico à coisa: despedimentos. Só através de despedimentos se ajustam negócios. Despedir trabalhadores é a maneira mais fácil encontrada pelas empresas para reduzir custos e, com ou sem privatização, é o que acabará por acontecer na estrutura da RTP. Despedir, ponto. O Governo está só a prepará-lo. É inevitável.

E o meu pai tem razão: qualquer dia, tiram-nos tudo.

 

PSD-CDS: o amor vem aí (mas eu recuso-me a ficar com eles)

"Filho, com quem preferes ficar: com o PSD ou o CDS?" É esta a questão que resulta da tensão entre sociais democratas e populares. E à coligação só resta perguntar ao povo com quem quer ficar.

Depois do CDS pontapear as intenções do PSD na (não-aprovada) Lei Eleitoral Autárquica, Paulinho Portas mostrou-se desconfortável face à privatização da RTP. Mas as desavenças relacionais não ficaram por aqui: "Mais impostos, não!" é o grito de ordem do CDS relativamente às previstas soluções de Passos e Gaspar.

Tantas peripécias que aterram sem pára-quedas sobre um casamento em risco.

"Não podemos fazer de conta que não existe um problema com o CDS": Passos Coelho refere-se, possivelmente, à calvice de Paulo Portas. O problema capilar do líder do CDS é a causa natural do arrefecimento amoroso da relação.

No entanto, nada que uns bons momentos a sós num hotel não resolvam. Parece mesmo que problemas entre marido e mulher, não se deve pôr a colher dado que PSD e CDS encontraram-se hoje no Tivoli, com o nítido objectivo de discutir a custódia de seus filhos. Não será necessário explicar como terminou a reunião: orgia inter-partidária, sempre a descambar para a direita.

Por mim, não fico nem com PSD nem CDS. A casa é dos filhos. A casa é do Povo.

quinta-feira, setembro 6

Ó Relvas, ó Relvas


Ó Relvas, ó Relvas
Uma licenciatura à vista.
Sou contrabandista
E já não tenho telemóvel pago pela Câmara!


Será que Michelle Obama conhece o seu marido?

«Jamais pensaria que fosse possível, mas hoje amo mais o meu marido do que há 23 anos, quando nos conhecemos». Esta foi uma das várias declarações de Michelle Obama que conquistaram (por enquanto) os apoiantes presentes na Convenção Democrata.

Relembra-se os mais desatentos: os norte-americanos estão a um passo das eleições presidenciais e o trabalho de votos já arrancou. Barack Obama tem na sua esposa um grande trunfo que pode amealhar alguns votos nas câmaras, isto porque maioria do eleitorado é composto por mulheres.

Michelle retratou Obama como o verdadeiro vencedor do American Dream, proveniente de uma família social e economicamente frágil, que conseguiu chegar onde chegou. Mas será que Michelle Obama conhece o seu marido?

Segundo as suas palavras, Obama é imune a metamorfose característica dos políticos: não se deixou corromper pelo poder e dinheiro, continuando o mesmo querido de sempre. Michelle chegou mesmo a constatar que «para Barack o sucesso não se mede pelo dinheiro que se ganha, mas pela diferença que se pode fazer nas vidas dos outros».

E, realmente, a primeira-dama conhece muito bem o seu marido. Desde que se sentou na Casa Branca, Obama é mais sensível a accionar o botão de disparo do que o terrível Bush. O Nobel da Paz fez aumentar substancialmente o número de mortos no Paquistão e no Iémen (civis e talibãs, membros da Al-Qaeda), segundo o jornal The Washington Post. De facto, Michelle Obama não está enganada quando afirma que Obama tem influência na vida dos outros.

Evidentemente, os ataques aéreos para liquidar terroristas que levam consigo a alma de muita gente inocente é, para muitos, justificável. Mas a verdade é que Barack Obama mostrou-se envergonhado no momento da tomada de posse (2009), pedindo desculpa pelas mortes inocentes provocadas pela guerra travada entre os EUA e outras nações, não esquecendo que o fim dos movimentos bélicos era o argumento maior do então candidato democrata em 2008 para a presidência.

Ao invés de Bush - que tinha como estratégia torturar terroristas capturados a fim de resgatar valiosas informações para os avanços bélicos -, Obama adoptou uma política mortífera, eliminando inimigos através de ataques de aviões não tripulados. Má opção estratégica: os bombardeiros evaporizam os adversários, sem nada saber em troca.

Razão? Os americanos sentem-se orgulhosamente feridos por verem o seu representante frágil perante o panorama mundial, onde actores como Putin, Bashar Al-Assad e Pedro Passos Coelho (riam-se do último, por favor) ignoram Barack Obama, rejeitando negociações para fechar a carnificina que existe em vários pontos do mundo de intervenção norte-americana. Depois de informar o mundo da morte de Bin-Laden, julgo que Barack Obama não tem mais nenhum alvo a quem apontar armas. Não porque não existem figuras para serem alvejadas, mas porque não respeitam o querido esposo. É talvez por isso que Barack tenta ganhar alguma reputação e impacto de espírito.

Os poderes psíquicos de Marcelo Mendes!



A febre anti-touradas já há muito que me atingiu, mas nestas recentes semanas os acontecimentos não podem deixar ninguém indiferente à questão. O blog Tourada - Portugal colocou os relatos de Marcelo Mendes à Agência Lusa. Comédia gratuita, acreditem.

Marcelo Mendes é o nome do cavaleiro que anda na ordem do dia. Segundo o próprio, "estava a aquecer os cavalos» e foi «insultado, o que é já normal. Entretanto, começou a corrida e, antes de tourear, fui novamente aquecer os cavalos». Ora, depois de instrumentalizar os cavalos, procedendo ao aquecimento como se se tratassem de carros fórmula 1, Marcelo Mendes foi insultado e agredido pelos manifestantes que se encontravam junto da arena do sangue. Ao que parece, o manifestante disse que o cavaleiro «deveria espetar ferros nas costas da mãe». Até aqui, nada que não seja corrente para um profissional de uma modalidade, sujeito a qualquer tipo de insultos e consideradões menos boas.

No entanto, Marcelo Mendes alega que o manifestante elaborou uma alusão ao cavaleiro que, recentemente, sofreu uma lesão com efeitos irreversíveis, à qual não podia ficar imune. De facto, é suficiente para se alterar emocionalmente. As imagens mostram o cavaleiro Marcelo Mendes a invadir o espaço dos manifestantes, com reais investidas de atropelamento, mas segundo as suas palavras apenas «tentou fixar a cara do tipo e arrancar atrás dele para o agarrar, para quando chegasse a polícia ser identificado». Creio ser difícil perseguir alguém a cavalo e agarrá-lo com sucesso (à velocidade que se vê nas imagens), uma vez que só atropelando o manifestante seria possível imobilizá-lo, a não ser que Marcelo Mendes tivesse poderes psíquicos que segurassem ou travassem o fugitivo. «Nunca tive intenção de magoar ninguém», diz. Declaração que confirma os poderes psíquicos de Marcelo Mendes, pois só com o poder da mente conseguiria imobilizar o manifestante em fuga. A mim faz-me lembrar os episódios de Tom & Jerry. A sério.

O clímax da comédia chega quando, segundo os relatos à Agencia Lusa, Marcelo Mendes «acusa ainda os manifestantes de provocarem danos materiais nas viaturas do seu "staff" e revelou que vai apresentar queixa junto das autoridades competentes, contra os manifestantes».

Marcelo Mendes, que faz parte de um rito social que destrói o património universal, apresentou queixa contra os manifestantes que lutam pelos direitos de animais subjugados e mal-tratados publicamente. Os touros, esses, não têm voz para reivindicar o direito à sua condição natural e ao que lhes pertence. Gostava de poder fazê-lo por eles, pelos touros: as autoridades competentes não teriam espaço para as infinitas queixas.

Ainda há dias comprei uma Smart Pen - uma óptima ferramenta para remover riscos do carro -, que pretendo enviar a Marcelo Mendes e a toda a sua equipa para poderem corrigir os danos materiais das suas viaturas. Mas só faço esse favor ao cavaleiro se reparar todos os danos imateriais que a arte tauromáquica provoca há vários séculos. Tem poderes psíquicos para isso?

quarta-feira, setembro 5

O Não-tecto


Não são os dedos de Adão e deus; não é o tecto da Capela Sistina e nada tem de Michelangelo; não existem criações divinas nem o primeiro homem; é simplesmente o toque do amor.

«Já alguém convidou o marginal para ir tomar café?»

Nos últimos dias tenho dado por mim a pensar no quão diferente é a minha vida dos restantes jovens. Bom, o que me faz ser diferente, na verdade, é uma opção. Uma opção que, a meu ver, é uma pequena opção. Não passa disso. Mas para os meus amigos e prováveis amigos, é uma escolha tremendamente louca que transforma a forma como olham para mim.

Optei por não ter facebook. Nunca vi necessidade de integrar uma rede social, sendo que sempre achei não precisar de conhecer mais ninguém ou de estar permanentemente ligado a um computador para relacionar-me com as pessoas. No entanto, sinto-me realmente descontextualizado, à margem dos acontecimentos e da últimas mais importantes sobre isto ou aquilo. E o sentimento de marginalizado aumenta quando os meus amigos e prováveis amigos sabem da minha opção. Quando estamos sentados num café a conversar, qualquer assunto culmina num circulo fechado à volta da mesa, ao qual eu não faço parte. Esse assunto torna-se desviante quando qualquer um dos meus amigos ou prováveis amigos diz que publicou uma coisa no facebook. De repente, todos sentem-se senhores da palavra e desenrolam o assunto, enquanto eu - já por hábito - finjo atar os atacadores ou ajeitar o cabelo. O assunto, publicado no facebook, leva a outro com origens surpreendentes no... facebook. Tento não ficar de fora e procuro na minha memória algum assunto que esteja em voga, que até seja mais ou menos de grande amplitude. Porém, fracasso sempre porque para os meus amigos e prováveis amigos, o assunto já passou à história.

E isto acontece em média de 5 em 5 minutos (ou menos). Imaginem quantas vezes tenho de atar os atacadores, despentear e voltar a formatar o penteado. Mas isto é com os meus amigos. Veremos agora o que se sucede com os meus prováveis amigos - aqueles com potencial para eu me tornar amigo, através de uma conversa e troca de ideias.

Quando me encontro com amigos de um amigo meu, quase como por fatalidade do destino, as conversas acabam com esta expressão: «o quê, meu, não tens facebook?». Já nem vale a pena tentar explicar a razão pela qual abdiquei de não pertencer a uma rede social, sendo que já tomei por adquirida a resposta ou comentário desses prováveis amigos: «como é possível?!». Nessa altura, afasto-me. De facto, sou sempre o último a saber de um evento e o último a ser convidado seja para o que for. Aceito a marginalização, pois é como me sinto e como olham para mim: como é possível viveres sem facebook?. Eu cá tenho sobrevivido e julgo não ser um animal há vários anos em cativeiro (julgo eu, não é?).

Se me perguntarem se resisto à tentação de criar conta numa rede social -  e isto admitindo que, por vezes, acuso a pressão -, respondo não sei. E não sei mesmo: às vezes, desconectado com a actulidade, quase que cedo à tentação e digo sim à aventura da partilha; outras, marginalizado e longe da galáxia "facebookiana", sabe-me bem ser diferente. É bom ser diferente, tiro gozo disso embora saiba que deixo de fazer parte daquele círculo imaginário vanguardista. Quero dizer, eles sabem sempre mais do que eu e, como pertencem à comunidade, dominam com maior facilidade os seus assuntos. Como é que se retira gozo disso? É bom ser marginal até no próprio grupo de amigos. Pelo menos sei que o convite para ir tomar café é especial e diferente dos restantes; têm que ter uma preocupação extra em usar outros meios para convidarem. Isso chega para me sentir bem.

sábado, setembro 1

Portugal Público: um jogo em prolongamento

Claustrofóbico e sufocado: era como vivia Portugal - e a senhora da imagem que poderia muito bem ser a minha avó - para lá dos 38 anos passados (verdade, foi em 1974 que se cravou a Liberdade em terras lusas). A eficácia da Máquina evaporizava qualquer tentativa de manifestação de liberdades individuais ou colectivas, sendo que os ataques da censura mutilavam a troca de ideias e impediam as relações sociais. Espaço Público? Absolutamente condenado. Os resultados da acção invisível da Máquina eram totais, enfim, uma sociedade completamente fechada, anestesiada e adormecida.

Esta é a fotografia que adquiri do meu país através dos longos e perturbadores monólogos dos meus professores de História, sempre naquele tom monocórdico, trágico, sem volta a dar. Mas voltando as páginas ao presente, sem voltar as costas ao Passado, o que é hoje o Espaço Público Português?

Eu diria que a Máquina é outra mas a música é a mesma: de facto, parece que expulsamos toda a parte da História que não era desejada porque poderia regressar de um nevoeiro, assombrando o «Novo Estado» que se avizinhava; pois assim se fez e apenas fora expulsa parte da História, como por exemplo, substituir o nome da ponte sobre o Tejo (se calhar porque alguém poderia mesmo emergir do nevoeiro e condenar Portugal mais 40 anos). O que não fizemos foi eliminar a doença contagiante, hoje crónica, de continuar instalados fora do que realmente acontece no nosso território.

Respondendo à questão: na minha óptica, o Espaço Público Português encontra-se, ainda, em stand-by. Por inércia do povo? Também. Mas existe mais: um espaço artificial criado em televisão de debate ideológico, político e partidário que existe por necessidade da esfera política em manter sustentável as barreiras impenetráveis contra o pensamento criativo; esse circuito mediatizado está normalizado, pautado com regras, abolindo as intervenções energéticas e fulgurantes dos participantes, e as opiniões desses políticos são opiniões superficiais, não de políticos mas de comentadores. Limitam-se a comentar, a discursar sobre isto e aquilo que se passa nesse circuito fechado, ao qual o povo mal consegue aceder não por incapacidade mas por insuficiência de portas abertas: programas com participação telefónica? São foruns controlados pelas entidades, orientados por pseudo-políticos que comentam o discurso de um político que já havia comentado o discurso de outro político.

Trata-se de um circuito fechado e com mecanismos personalizados, ocultos e capazes de esquematizar todas as suas esferas, exercendo relações de poder e outro tipo de pressões para seu próprio bem. O que haveria de ser deste circuito se desse oportunidade ao real Espaço Público? Certamente, um eclipse. Destruição era o seu caminho, uma vez que a sua democratização acabaria por romper a mecânica da obediência televisiva, onde o telespectador é o ouvinte e a sua opinião é a opinião pré-fabricada, um constructo falso, não-dedutivo, não-experimentado; o telespectador é obediente, cala e ouve, pertence a uma massa esfomeada por imagens e pelas afirmações dos políticos e consequentes re-afirmações dos comentadores.

Um real Espaço Público é o contacto próximo, minimamente mediado e universalmente aberto, com as devidas explicações, sem sermões. A Política em Portugal é «fraca» ou «chata» porque ninguém a percebe. Ninguém a percebe porque se fecha.

E dizia eu: passaram 38 anos desde a Revolução dos Cravos?

sexta-feira, agosto 31

Dinheiro real?

"O dinheiro é a essência alienada do trabalho e da existência do Homem; a essência domina-o e ele adora-a", Karl Marx sobre a alienação do trabalho e as suas críticas ao fetichismo da alta burguesia.

'Uma Noite em Casa de Amália': uma excelente tertúlia

'Uma Noite em Casa de Amália' marca o regresso do gigante Filipe La Féria à encenação com um texto da sua autoria e um outro retorno: há muito que eu e os meus pais não nos sentávamos lado-a-lado no Politeama. Deixo desde já uma breve contextualização ao tempo histórico da peça.

Véspera de Natal de 1968: vivem-se altas temperaturas com o rebentação da guerra colonial, em Angola, e com o estado de saúde de A. O. Salazar; Marcello Caetano ascende ao trono. Portugal e o Estado Novo estão numa situação fragilizada, sobre escassas hipóteses de que o equílibrio político imposto triunfasse, novamente.
Entretanto, o Futebol e o Fado são as escapatórias do povo que vive aprisionado à sua própria condição, mergulhado na inércia asfixiante.



Esta viagem à Primavera Marcelista, antes de sucumbir o regime ditatorial, Amália promove uma tertúlia em sua casa para receber o grande poeta (não somente brasileiro mas do Universo), Vinícius de Moraes, que será o seu último dia de viagem em Portugal, mais precisamente em Lisboa. Ary dos Santos, Natália Correia, David Mourão Ferreira, Maluda e outros compõem uma mistura de personagens com diversos ideais e inflamáveis linhas de pensamento que cruzarão fogo nas palavras.
Este encontro em palco entre os nossos Fado, Folclore e Humor, e os ritmos do Samba e da Bossa Nova, converte-se numa pura homenagem à cultura portuguesa e à veia mobilizadora dos portugueses. Com Amália Rodrigues a dirigir a tertúlia poética, são muitas as canções interpretadas de mãos dadas a Vinícius de Moraes, dando origem a uma maré libertária da alma colectiva do povo português.

O texto de La Féria lança-nos as sementes da ruptura e da revolução intelectual que o nosso país necessitava na época e hoje - subnutrido em inspiração e coragem -, escasseiam os movimentos e agrupamentos nas novas gerações com o intuito pensante e de abertura que nos permitam subir o degrau; os rasgos de alegria contra o abuso de poder ou o exercício duma cidadania mais digna, em nome daqueles que levaram Portugal a outro patamar.

quinta-feira, agosto 30

Marilyn Monroe: meio século depois


O ícone intemporal Marilyn Monroe morreu em Agosto de 1962, tinha 36 anos. Monroe era, é e será muito provavelmente a figura feminina mais próxima do céu, por todo o brilho e beleza próprios de uma deusa grega que a separam dos comuns dos mortais. Seus atributos e qualidades intrínsecas levaram-na ao mais alto patamar do glamour, fixando a sua imagem corporal como molde paradigmático para muitas jovens que partilham da mesma ambição.
E mesmo meio século depois, o legado da estrela magnética mantem-se aceso e vivo em todos os cantos da arte. Esse património que roça os limiares da espiritualidade é o resultado de um esforço inesgotável: mais do que uma estrela, Monroe aceitou a sua condição natural e humana e procurou ser ela própria. Reivindicando o seu «eu» na exaustão, na fragmentação da sua identidade, Marilyn apagara todas as luzes, acabando por fechar a porta a todos os olhares que assaltavam a sua integridade individual.
50 anos depois, vejo Marilyn Monroe como uma rebelde em permanente revolução íntima, na luta constante pela afirmação da sua realidade que acabou por ser ultrapassada pela realidade que o mundo fabricou. Mesmo após a alvorada da sua existência, o maior reconhecimento que o mundo lhe pode oferecer é perguntar Quem foi Norma Jean Mortenson?

terça-feira, agosto 28

Ensaiar e Tertuliar

Ensaios e Tertúlias é o nome do meu primeiro blog e tem na sua essência aquilo que de mais belo a conversa pode oferecer aos homens e mulheres: desobrir o nosso mundo. A fusão dos dois conceitos acontece por naturalidade, não fosse a semelhança de príncipios que os une ao conquistar o conhecimento por via da reflexão crítica, promovendo opiniões pluralistas. O diálogo, a divulgação e a exposição de perspectivas complementam a busca por ângulos de abordagem, assentes neste casamento capaz de nutrir igualmente o interesse pela actualidade.

O que mais me fascína no título é a possibilidade de flexibilizar as ideias sem formalismos, ao jeito de uma conversa de amigos no café, e livre de imperativos científicos. Já dizia um dos meus pensadores favoritos, José Ortega y Gasset, ensaiar é fazer ciência, uma ciência sem prova explícita.


Olá ou abrir o livro ao mundo

O meu primeiro Olá aos que me lerem será acompanhado do primeiro Olá às redes sociais e a qualquer tipo de estrutura online de convívio e partilha. A minha perspectiva mundana sempre se barricou num quarto com uma parede tonificada em vermelho e as suas manifestações nunca foram suficientemente fortes para prefurar esse quarto-cofre de uma solidez granítica.
Mas, gradualmente, a vontade e o instinto derrubaram este regime íntimo para dar lugar a um espaço democrático, de partilha e de libertação ideal. Se antes as minhas reflexões e pensamentos gladiavam entre si, hoje procuro a minha própria Primavera, criando um circuito de informação aberta e conectável a todos aqueles interessados em interagir. No fundo, Ensaios e Tertúlias.

Um muito obrigado a todos que injectaram em mim a vontade e desafiaram o instinto para dar inínico a esta aventura.